quarta-feira, setembro 05, 2007

Experiência VII

- Temos aqui um grave problema.

André dá voltas à mesa, olhando para Rui.

- Há aqui uma enorme falta de confiança, que eu simplesmente não percebo.

Rui levanta-se rapidamente da cadeira, aproxima-se de André de uma forma ameaçadora. Agarra a sua mão, prendendo-o a si.

- O que há aqui é insegurança, nada mais.

André fica atordoado, talvez porque aquilo que Rui diz ser verdade ou pelo simples facto de não ser mais que um comum cobarde a tentar ser corajoso.

- Tu sabes que eu tenho razão. Deixa-te destes números idiotas e tentar fazer qualquer coisa antes que seja tarde.

André parece cada vez mais abatido e acaba por deixar descair o corpo. Senta-se no chão, não olhando para Rui.

- Só não quero que tu me deixes aqui sozinho, nada mais. Quero (faz uma pausa), que volte tudo ao normal, aos tempos em que éramos só os dois a correr pelos campos, a jogar à bola ou ainda a passear pela grande cidade quando podíamos...

Rui também se senta no chão, mesmo ao lado de André.

- Onde é que estão esses tempos? Parece que tudo desapareceu com a suave, mas cruel brisa do Árctico...

André esconde a cara entre as pernas, talvez para chorar ou talvez para reflectir sobre a passagem do tempo e das nossas vidas. Rui, em silêncio, abraça-o, deixando cair uma pequena lágrima.

- Mesmo que as nossas vidas tenham mudado, tu farás sempre parte de mim e eu farei sempre parte de ti. A ligação que temos será sempre mais forte que qualquer canto das Sirenes, ou dos perigos do crescimento humano. Eu e tu somos amigo, e nada poderá mudar isso.

André levanta a cabeça, Rui sorri. Os dois voltam-se a abraçar, fechando, assim, todos os problemas que a sua amizade poderia ter. Agora eram novamente amigos e isso poderia levá-los a qualquer sitio, sem problemas. Rui levanta-se, ajudando André.

- Bem, temos de sair daqui antes que...

E uma enorme onda de água entra pela porta da direita, levando os dois amigos, cada um para seu lado. Perdidos nas águas frias, tentam reencontrar as suas mãos quentes, como tinha prometido. Contudo, nunca mais se viram...

Na proa...

- Capitão, temos quase todos os passageiros nos barcos de salvamento.

- Tens a certeza?

- Bem, haviam aqueles dois, mas estavam a ter “aquela conversa” e...sei lá...decidi não entrar...

- Ah, “aquela conversa”...

- Sim...

- Oh...pois, quer dizer...é melhor não termos nada a ver com isso...

- Eles devem saber o caminho...

- Olha, eu cá só sei uma coisa, que não os queria no meu barco!

Os dois começam-se a rir e caminham em direcção aos barcos de salvamento.

- Capitão, você é o maior!

E o barco afundou-se lentamente nas águas geladas, selando, para sempre, os laços de uma amizade.

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