quarta-feira, janeiro 12, 2011

Coisas do passado


Hoje foi dia de ajudar o meu pai a arrumar alguma da tralha que temos na arrecadação. Focámo-nos nos inúmeros arquivos que tinhamos lá em baixo e fomos deitando fora coisas que a familia já não precisava. Contas dos anos 80, pagamentos originais da casa, na maioria dos papeis eu ainda nem tinha nascido. Foi tudo para o lixo, sem problemas. Depois chegou a parte mais dificil: as minhas coisas.
Eu guardei sempre tudo o que tinha da escola, desde cadernos, dossiers, desenhos, testes, livros, tudo. Nunca me quis livrar de nada e sempre pensei que um dia ia precisar de tudo aquilo. Hoje, com medo de ser um "hoarder", cresci um par de tomates e livrei-me das coisas que não precisava. Vi muita coisa que me deixaram saudades, principalmente por me recordar de tempos tão simples, e vi também muita coisa que me estava a prender. Desde o final do ano que ando a tentar cortar com pequenas coisas do passado, deixá-las para trás e seguir em frente sem remorsos. Tem sido o meu pequeno projecto pessoal para conseguir melhorar um bocado, até porque era ligeiramente obcecado com o passado (está a passar, pessoal). Aliás, o próprio Boião é resultado dessa medida e com o tempo também se vai.
No meio da tralha toda, encontrei coisas que me fizeram sorrir, coisas que eu nem sabia que existiam. Quantos de vocês viram as vossas próprias ecografias, principalmente quando são de 87? Eu tive com elas nas minhas mãos, nunca pensei que a minha mãe fosse assim tão sentimental, mas até a minha pulseira de identificação da maternidade lá estava. Esse tipo de coisas, eu acho que devem ficar connosco. Cadernos, folhas e afins que nos lembrem unicamente de tempos de escola e de pessoal com quem já não falamos não fazem falta nenhuma. Se a desculpa era o meu irmão, para ele puder estudar pelos meus apontamentos, tudo isso mudou quando o miudo seguiu por um agrupamento diferente do meu e chegou ao 12º. São coisas que eu senti que tinham de ir embora, que não me estavam a ajudar. E assim que o fiz, não me senti mal, aliás, nem conseguia parar de deitar fora.
Não sei se concordam comigo, mas eu apenas fiquei com os livros. O resto desapareceu, fica-me na cabeça e lembro-me quando quero, já ocupam espaço lá. Começo a sentir que não me posso apegar a coisas que perderam todo o seu valor, que representam tempos que nunca mais vão voltar e que simbolizam pessoas de quem eu me afastei ou elas se afastaram de mim. Eu sou outro, as coisas são outras e não fazem falta. Estou a limpar a casa, kiddos, a ver se melhoro um bocado como pessoa e fico finalmente em união comigo mesmo (e eu não sou emo, bitches, apenas dava valor a cenas do passado que agora estou a pôr de lado para seguir em frente).

Custou-me muito mais deitar fora as chaves da casa da minha avó do que mandar uns quantos papeis para o lixo. Afastar-me completamente da casa em que cresci foi o primeiro passo desta limpeza que vai continuar até, sei lá, o Boião fechar. Até lá, encontrei umas quantas coisas muito porreiras, como uma história que comecei no 7º ano que vou colocar aqui com erros e tudo, para verem o quanto eu escrevia e tinha má imaginação.

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2 Comentários:

Blogger Marta K disse...

Às vezes é realmente inveitável guardar todas essas pequeninas coisas. Talvez as guardemos não tanto para mais tarde recordar mas porque naquele momento nos são realmente importantes. Porque olhamos para aquilo e sentios que o valor é tão grande que simplesmente deve ser preservado numa caixa ou armário que temos por casa destinado a "memórias" ou objectos que pouco se utilizam.


Com o tempo realmente torna-se mais fácil o deitar tudo para o lixo. Uma pessoa cresce, muda de ideias e encara a vida de um modo diferente. Com o tempo acabamos por saber o que realmente queremos guardar e o que simplesmente pode ser dispensado porque afinal não é assim tão importante. Distinguimos o essencial do que é considerado uma corrente já demasiado enferrujada a puxar-nos para o passado.

10:23 da tarde  
Blogger JohnSamus disse...

Eu cheguei a um ponto na vida em que me estou a livrar de coisas que não fazem falta. Acho que por aquilo que tenho escrito no Boião se percebe que no ano passado perdi uma pessoa que me era muito querida. No dia em que ela morreu, as coisas aconteceram de forma tão rápidas que assim que me sentei e pensei no que tinha acontecido, a única conclusão a que cheguei foi: a minha infância acabou.
Perdi a casa onde fui criado, perdi a pessoa que me criou, perdi tudo e mais alguma coisa. E tudo aconteceu no espaço de 3 dias, não mais que isso. Cheguei a um ponto que, mesmo sabendo que continuo a ser parvo e dar valor a tudo o que aconteceu no passado, não me devo deixar ser arrastado por ele e ficar preso. Eu estava sempre a pensar nas coisas que aconteceram, nas discussões que tive, nos erros que cometi e nas pessoas com quem já não falo. Agora não quero saber, sei que tenho é de lutar pelo futuro e o resto que se lixe, até porque sei quem está comigo e quem é amigo.
Por alguma razão deitei a chave da casa fora. Eu nunca o conseguiria fazer, mas quando o fiz, percebi que as coisas ficam cá...só que mais calmas.

Obrigado pelo comment*

10:40 da tarde  

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