domingo, abril 23, 2006

That's the way

Já me decidi.
Não sei se vou se fico.
A relva que o vento empurra para mim já não é aquela onde eu brincava, onde jogava à bola.
Cheguei vinte minutos mais cedo...para me decidir realmente, para eu ainda ter a sensação que podia voltar atrás, para eu ter a ilusão que se voltasse para casa todos estariam como estavam quando eu ainda não chegava ao interruptor para acender a luz.
Já não há nada disso.
Já não há tardes solarengas passadas à porta de casa, sentados...falando com a vizinha que ali estava à trinta anos, a vizinha que não sabia chamar lar a outro lugar...e eu, que não queria chamar lar a outro lugar. Tudo mudou, o sol já não aquece da mesma forma...já não somos os mesmos, já só nos rimos a meio gás porque o sorriso verdadeiramente alegre e genuino foi-nos tirado por ti, a culpa não é tua, nunca pensei isso...a culpa é nossa somos demasiado egoistas.
A unica que assiste impavida e serena ao lento andar dos anos é a velha arvore que tinhamos diante da nossa casa. De onde caí mil vezes quando era mais pequeno e de onde me atirava quando era mais crescido assustando o meu avô que vinha a correr ver se eu estava bem.
Só a arvore ali está, lembrando-me de coisas que eu gostava que acontecessem amanhã.
Já não me vais chatear mais nenhuma vez.
Já não me vais mandar para a cama.
Já não me vais perguntar se tenho namorada.
Já não me vais perguntar se gosto mesmo da rapariga com quem ando.
A viagem que faço para casa de carro depois de te ver pela ultima vez não é uma viagem, eu fiquei sempre contigo...deixei de ir desconfortavel, com as pernas contra uma porta...passei a ser infeliz e a ter nada.
Dói-me a cabeça do que bebi ontem.
A voz não parece querer sair.
Cheguei a casa e gritei com o meu pai, não me lembro do que disse mas disse bem alto.
Todo dorido de dormir na banheira.
Que as pombas marquem a tua chegada a onde quer que seja que chegues.
Que os corvos marquem o inicio da minha viagem, viagem para não sei onde com não sei quem...viagem por ti, para mim...para ver se encontro aquele que tu deixaste.
O carro é velho e provavelmente é do pai daquele que vem a conduzir, uma rapariga semi-nua abre-me o porta-bagagens, diz para eu por lá a mala mas eu quero leva-la comigo no banco de trás onde me sento. Ela apresenta-se enquanto mastiga uma pastilha elástica com a boca aberta. O que está a conduzir vira-se para trás.
- Então miudo tudo bem?
- Tudo.
O carro castanho segue pelos caminhos de terra por entre campos verdes, olho para trás e por entre o vidro com riscas horizontais pretas vejo o meu pai estupidamente, com lágrimas nos olhos a dar machadadas na arvore. Arvore que nos lembrava de momentos dos quais não nos podiamos lembrar agora, ainda está tudo muito presente...o que nos parece ter acontecido ontem, aconteceu mesmo ontem.
É o inicio da minha viagem, viagem sem destino, com pessoas que se eram meus conhecidos deixaram de o ser...viagem onde espero encontrar aquele que deixaste minha mãe.
Eu.







Yours sincerely...............Kid_d

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1 Comentários:

Blogger egocêntrica assimétrica disse...

Gostei.

10:02 da tarde  

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