domingo, dezembro 17, 2006

Symphony


Ando e vejo-te em todas as paredes, perdão, cambaleio e vejo-te em todas as paredes.

Porque é que não me deixas em paz?... Em vez de me atormentares inconscientemente nas noites em que eu demasiado cansado não arranjo maneira de adormecer. Ou quando penso com quem estás e esse sentimento que é visceral, que me constroi a mim próprio põe-me doente, literalmente doente...

- Então querido o que é que tens?
- Não sei, o jantar de ontem ficou aqui a remoer e só descansou quando veio cá para fora...
- Anda cá que eu dou-te qualquer coisa.

E depois há ela, que cuida de mim, que me ama....que diz que me ama, não a conheço o suficiente para confiar no que ela diz, não acredito nela e ela ama-me. Sou O egoista, uso-a, será? Eu não me importo a esse ponto, não me importo com ela ao ponto de tentar definir se lhe faço bem ou mal, não quero isso, tou-me a cagar, e assim acabo a ter pena de mim. Acabo por ser o menino dela, eu só trabalho, ela cuida de mim...tenho medo, tremo quando ela adormece e quando bonita como é se agarra a mim e esboça um sorriso, aquela pele macia, aquele cheiro bom...quem é ela? não sei, não quero saber...eu quero a minha Ana que nunca foi minha....

- Sempre fingirei que é de mim que gostas -


- Olha querido recebi hoje uma carta da Ana e do João, vêm cá a Lisboa e passam por aqui para irmos almoçar todos juntos.


Ela vem? Mas assim? Do nada? Começo a suar das mãos como se ela estivesse prestes a entrar.
Paro o olhar na minha mulher, aquela que dorme comigo, que me ama e de quem eu não quero saber...

- O que foi?
- Nada nada, lembrei-me de uma coisa que tenho de entregar hoje lá no emprego, vá, vá tenho de ir querida...

Não lhe dou um beijo mas encosto os meus lábios aos lábios dela.

Saiu apressado como para apanhar um autocarro que já tinha partido à muito, tiro o casaco porque não me deixa correr e porque cheira a ela que deixei em casa e que a esta hora ainda não se preocupa com o almoço...a pasta com as coisas de trabalho cai...começo a correr mais depressa, mais, mais, mais depressa até os sapatos parecerem ténis, até eu fugir de mim próprio, até eu encontrar uma casa onde me acolham onde me conheçam desde sempre onde eu goste, ame quem comigo está...não encontro-me nada disso e esgotado acabo por entrar na Taberna mais próxima.

São 11 da noite, não fui trabalhar...regresso, ou tento regressar, a casa.
Ando e vejo-te em todas as paredes, perdão, cambaleio e vejo-te em todas as paredes.

Entro em casa de rompante e perdido de bêbado, dirijo-me a ela com raiva, como se fosse ela a culpada de tudo, quando a raiva que sentia era de mim e de tudo o que eu representava para mim mesmo.
Encontro-a no quarto assustada de morte por todo o barulho que fiz, os seus pés de princesa descalços, que acima do joelho já começam a ver a camisa de dormir branca que a tapa quase por completo, devem estar frios por agora estarem a pisar o chão, o chão que treme de raiva comigo... dirige-se a mim natural e suavemente, como uma nuvem a deslocar-se como uma flor a ser empurrada pelo vento.


- Tudo bem querido?
- Não me toques!

Ela pára com as mãos encostadas ao peito e estende uma para me tocar...

- Não me toques!!!!!!
- O que foi querido?

E de repente fiquei o mais sóbrido que poderia ter ficado, é isto que eu quero...tem de ser feito, não por ela...por mim.

- Desculpa....desculpa, eu não posso continuar isto, eu não te amo, eu nunca te amei...

Recua em "passinhos pequenos de pés de princesa que pareciam ter planeado esse recuo durante eternidades, não poderiam pisar noutro sitio que não fosse aquele que pisavam", a sua beleza continuava, senta-se baixa a cabeça e os seus cabelos soltam-se e só me deixam ver o seu corpo, a face desapareceu...murmura:

- Então o que foram estes 7 anos para ti - por entre baba e lágrimas.
- Eu, eu não sei....

Foi para casa da mãe dela...
E subitamente era o dia em que a Ana e o João iriam almoçar connosco, vinham cá porque o João tinha umas reuniões importantes, como ele.
Ao almoço sentia o desespero da ainda minha mulher mulher do meu lado direito, já tinhamos ido ali umas poucas vezes, mas Ela ainda não tinha chegado.
Derepente sinto qualquer coisa no peito olho em frente e vejo o velho a querer saber o nosso pedido, olho para a porta e vejo-a a entrar............


Tudo muda.
Para mim a ainda minha mulher fica contente, eu sou o Mais feliz, ela ri-se e levanta ligeiramente a cabeça em cumprimento assim que nos vê, cabelos castanhos que sussuram no vento versos de beleza, olhos mais claros indescritiveis, que fecham quando aquele sorriso calmo, suave, lindo corre na nossa direcção para tornar a minha vida melhor.

Não tiro os olhos dela enquanto o João me estende a mão.

- Então tudo bem?
- Agora sim...

Parecia que tinha sido ontem que a tinha visto pela ultima vez e já se tinham passado 7 anos.
Cumprimentei-a quando era felicidade por dentro...

- Então Ana como estás?
- Vai-se fazendo pela vida. (sorriso) E tu, tens tomado bem conta da minha irmã?

Ela vira-se para a ainda minha mulher.

- Então maninha tudo bem?

O almoço decorre estupidamente normalmente, por entre uns silêncios que diziam que já não eramos assim tão chegados...uma merda se à minha frente não a tivesse a Ela.
Por vezes eu dizia uma parvoice e ela ria, ou os nossos pés tocavam-se debaixo da mesa....

3 horas- hora da reunião do João, ele sai...
A ainda minha mulher, não aguenta mais, levanta-se de rompante, a cadeira cai e vai-se embora.

- O que é que ela tem?
- Não sei......

Acabamos o café sem trocar uma palavra...

- Temos lá na suite uns quadros que comprámos assim que chegámos a Lisboa, queres ir lá ver?
- ......sim.

Ana
Ana
agarra-me pela mão e corre como se fossemos livres, como se ainda não tivessemos idade para ter preocupações...
Entramos no quarto dela e do marido. Estica as mãos em diracção aos quadros, dá uma volta para mim, e o seu vestido dá a volta com ela.........ri-se..
Nessa altura eu não consigo falar por ter muita coisa para dizer....acabo por não dizer nada, ela também não diz nada, nada enquanto se enfia na cama, nada enquanto fazemos amor, nada enquanto ela dorme no meu peito, não diz nada enquanto eu passado tanto tempo finalmente sou feliz...levanto-me vou a casa de banho, sento-me na sanita e choro, choro de felicidade numa casa de banho que deve ser bem mais cara do que a minha casa...volto para ela, e aninhamo-nos um no outro e assim ficamos.

8 horas-

- Levanta-te, o João deve tar ai a aparecer.
- O que?

Foi uma escapadinha, uma tarde para ela uma vida para mim, mas que poderia eu esperar, ela é casada e provavelmente até ama o marido....devo ficar feliz por isto ter acontecido. Olho para ela, sorrio e deixo escapar uma lágrima que disfarço com um bocejo.

Chego a casa feliz pela minha tarde e de rastos, de rastos desesperado...não me resta mais nada, nada. NADA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! e agora? vivo? trabalho? suicido-me? como me vou suicidar se o decidir fazer? enforco-me? dou um tiro na cabeça? e a licença para a arma? para que digo que a quero? caçar?defesa pessoal? do que? de mim? sim, de mim.
Entro inerte em minha casa.

Não oiço nada, será que a minha ainda mulher está cá.
Entro no nosso quarto, e o corpo lindo da ainda minha mulher está deitado na cama, um fio escorre-lhe da cabeça e toca no chão...é sangue. ela ainda tem a arma na mão...deixou um bilhete.

"Aqui foi onde eu fui mais feliz em toda a minha vida, não faria sentido morrer noutro sitio.
Eu amo-te/Tu não me amas


Ana"


Que faço?
Desepero.
Sozinho.

Agarro na arma, limpo as impressões digitais da que agora já não é minha mulher, e cravo la as minhas, enrolo a minha mão à volta da arma cinzenta, salpicada de vermelho de amor...ligo para a policia...eles chegam...apontam-me coisas iguais àquela que tenho na mão.

- Eu matei a minha mulher...hm, eu odiava-a....




Yours sincerely...............Kid_d

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