domingo, abril 27, 2008

Experiência XI

- Lembras-te da primeira vez que viemos aqui?

Ele não responde, parece algo perdido, distante. Ela simplesmente sorri, não olha para Ele, fixando-se no luar que atravessa a longa planície onde estão. As ervas dançam ao sabor do vento, sem se cansarem, soltando o pólen no ar. Os pirilampos passam pelo campo, procurando uma nova casa. Para além deles, não há mais nada.

- Sempre quis voltar aqui.

- Tive saudades tuas.

Ela volta a sorrir, olha para Ele, que também sorri. Ela deita-se na relva, o luar ilumina todo o campo, as flores dão-lhe a cor que sempre desejaram. Ela fecha os olhos, descansada, sem quaisquer preocupações. Ele olha para o céu, as nuvens começam-se a formar. Ao fundo, para além do luar, luzes azuis preenchem os céus. Um azul claro, como holofotes. O luar continua presente, mais brilhante, apenas com as suas silhuetas presentes.

- Temos de ir.

Ela abre os olhos, olha para Ele, iluminado pelo luar e as luzes claras. Vê o seu rosto, sorri. Estende a mão, ajudando-a a levantar-se. Agarra-a, abraça-a, fica com ela nos seus braços. O vento aumenta, a sua gabardina voa com o vento, tal como o seu vestido. Apenas eles e o luar, cada vez mais distante.

- Eu sabia que voltavas.

Os dois ficam abraçados, até que ouvimos uma sirene ao longe. As luzes azuis, os pirilampos e o luar desaparecem lentamente, dando lugar ao vermelho do fogo. Para além do luar, as silhuetas da destruição, prédios caídos. Não ouvimos nada, só a sirene. Ele olha para o céu, as nuvens fazem um círculo por cima deles. Ele agarra-a com mais força, protege-a do medo.

- Não olhes para mais nada. Eu estou aqui, vai correr tudo bem.

Das suas costas nascem asas, as penas brancas soltam-se, preenchendo o campo anteriormente verde. Levantam voo, só eles os dois, deixando para trás o vermelho da destruição. O céu volta a ser azul, à medida que as penas brancas se espalham. Das cidades, outros voam em direcção às nuvens. As asas brancas preenchem o céu, todos se afastam das cidades destruídas, vazias, toda a devastação fica para trás como uma má memória. Só eles os dois se abraçam, só isso lhes interessa. Ficarão assim para sempre, dançando no céu azul…no seu paraíso.

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