terça-feira, janeiro 12, 2010

Dragon Ball Evolution

E agora, depois de alguns meses a reprimir o facto de ter visto este filme, aqui está a minha critica ao "Dragon Ball Evolution", momentos depois de o ter visto. Digamos que estava chateado...

Ahhh...Dragon Ball, como eu me lembro das tardes em que me sentava em frente à televisão para ver as aventuras do pequeno, mas estranhamente forte “Son Goku”. Quantas vezes gritei, sorri, temi, chorei e vibrei com as suas histórias loucas. Eram parvas, mas tão atraentes que era impossivel ficar indiferente, aliás, ainda hoje é impossivel ficar indiferente e é ai que notamos quando algo é genuinamente bom. Tudo bem que é um desenho animado japonês e que a história é rebuscada, mas se formos à base, não deixa de ser uma história simples sobre um rapaz que aprende sobre o mundo que o rodeia à medida que descobre os seus próprios poderes e os usa para ajudar todos os outros. É arquetipal, e a verdade é que influenciou muitas das séries de animação que hoje vemos. Poucos foram aqueles que ficaram indiferentes perante o fenómeno “Dragon Ball”, mas infelizmente, toda a fama tem o seu lado negativo.
De todos nós que crescemos com a série, quantos podem dizer que não gostavam ou não viam? Por algum motivo foi e ainda é um fenómeno. Claro que as crianças de hoje têm o “Naruto”, o “Bleach” e até o “One Piece”, mas onde estariam essas séries se não fosse o jovem com cauda de macaco que conseguia levar com uma bala na cabeça e não morrer? Em lado nenhum. E se há coisa que eu fui aprendendo enquanto estudei cinema, é que se há qualquer coisa que tenha algum sucesso, “Hollywood” raramente o deixa passar sem fazer a sua própria versão. E agora, em 2009, mais de 10 anos depois das nossas tardes em frente à televisão, muito tempo depois do “Bueréré” ter acabado e a Ana Malhoa se ter transformado numa “porca”, encontramos o filme “Dragon Ball Evolution”. E é o pior filme que vi este ano.
Eu tentei ver o filme sem o olhar de fã, mas é impossível. Os pontapés nos tomates são tantos que é muito difícil ficar indiferente perante a destruição que vemos no ecrã. Pegar num quantos nomes, num pouco da história, dar-lhe um tom mais urbano e algumas sequências de acção não fazem automaticamente que um filme possa ser considerado de “DRAGON BALL”. Se há coisa que eu simplesmente adoro no universo da série, é nada ser muito coerente. Não porque as coisas não fazem sentidos, mas as pequenas coisas como ainda existirem dinossauros e já terem objectos que cabem em pequenas cápsulas, ou pessoas com cabeças de lobo e outros monstros pouco usuais. Mas ninguém quer saber, dentro do universo da série tudo é possível e isso é admirável. Tem tudo um aspecto tão alegre e despreocupado que as coisas mais loucas apenas sobressaem a beleza do ambiente do mundo. O universo é sólido e faz sentido dentro de si, mesmo sendo composto por coisas pouco coerentes aos olhos da nossa própria sociedade.
Esqueçam isso no filme. Não sei se foi uma questão de orçamento ou não, mas algo tinha de ser mudado. “Dinossauros? Miudos com caudas? Isso não faz sentido nenhum”. Aposto que alguém pensou nisto, argumentista, produtor ou realizador, alguém deve ter dito isto. Pegar numa série como o DRAGON BALL e tentar dar-lhe um ambiente mais coerente e quotidiano, é o primeiro erro para fazer a adaptação. Ninguém quer ver um GOKU que leva porrada dos colegas de escola ou que não consegue falar com a rapariga que gosta, nós queremos ver, isso sim, um GOKU ingénuo que não percebe metade das coisas que vê e apenas lhes bate para ter a certeza que não lhe fazem mal (cena com o carro mesmo no inicio da série) e um GOKU que casa com a Chi Chi porque ela lhe prometeu que fazia um bolo. Boas ou más, estas são as coisas que faziam do DRAGON BALL uma série diferente de todas as outras e tirar tudo isto é apenas um crime.
A história é simples e patética. Têm de encontrar as sete bolas de cristal, o PICCOLO também as quer e há uma história qualquer sobre o OOZARU, A.K.A, o macaco que o GOKU se transforma quando vê a lua cheia. Mas aqui, meus amigos, acreditem ou não, parece mais um lobisomem que um macaco e não serve para nada na história (para não falar que só se transforma com eclipses do Sol). As personagens são vazias e poucos parecidas com aquilo que viamos na série, uma coisa é termos a nossa própria adaptação de algo, outra coisa é tentar pegar nos mesmos elementos de algo e fazê-los mal. Há uma pequena diferença em relação às adaptações que queremos fazer e eu acho que eles misturaram as duas demasiado mal. Tanto querem ser como a série como querem se afastar o mais depressa possivel. Nem o maior fã da série, habituado às situações estranhas, consegue perdoar metade do que se passa.
Pode-vos parecer que a história é a mesma, e até certo ponto é a mesma com alguns elementos da saga do PICCOLO. Contudo, termos uma história simples nas mãos não quer dizer que vamos saber contá-la. Podemos ter uma boa história, a melhor de sempre, e não sabermos contá-la. “DBE” sofre desse problema e tentar colocar tudo isso em apenas 82 minutos é ainda um exercicio mais masoquista. Tal como já tinha dito, a história da série não era a melhor, mas o autor sabia disso e jogava com esse elemento. Tinha um universo suficientemente forte para puder aplicar todas as maluquices que vemos na série. Quando partimos de um ponto em que não sabemos a história que queremos contar e que basta colocar o tópico “coming of age” para tudo correr bem, é mais do que óbvio que falhamos. Eu valorizo uma história simples que sabe jogar consigo própria, que me consegue manter na espectativa. Olhem para o “Blood Simple”, dos Irmão Coen, uma premissa tão simples e vista, feita de uma forma extraordinária. E eu nem acredito que mencionei os Coen numa critica ao DBE...
Talvez esteja a levar isto demasiado a sério e a perder um bocado a lógica, mas acho que qualquer outro fã da série original (sim, não estou a falar do DRAGON BALL Z) não o conseguia fazer de outra forma. O pior nem é falhar como uma adaptação da série, mas sim falhar como um filme. Mesmo se tirássemos o nome “DRAGON BALL” e colocassemos outro, o filme continuaria a ser mesmo muito mau. O próprio filme parece estar mal editado, com cortes na narrativa demasiado graves para passarem ao lado. É uma confusão de filme, provavelmente devido a esquizofrenia do realizador e do argumentista, é algo imperdoável. Penso que muitos devem ter dito o mesmo, mas eu acho que não era difícil fazer uma adaptação do DRAGON BALL, e faria questão de colocar o mesmo universo da série. Nunca adaptaria o DRAGON BALL Z, muito por causa das batalhas e porque a história começa a ser só andar à porrada com mais pessoal, mas a série original tem tudo para se fazer uma boa saga de filmes sobre um miúdo que vive nas montanhas e é extremamente bom em artes marciais, mas tão ingénuo que precisa da ajuda de um grupo de pessoas para o ajudar na busca pelas bolas de cristal, principalmente pela bola que o avô lhe deixou antes de morrer.
Um último ponto e que, a meu ver, explica um bocado o falhanço da versão Hollywood. Os japoneses são conhecidos por fazerem as coisas mais loucas em filme. Vejam algo como o “Machine Girl” ou o “Tokyo Gore Police” para perceberem o que estou a dizer. Por outro lado, eles já tentaram fazer filmes que tivessem componentes de um anime, como o excelente (a meu ver) “Casshern” ou as sequências de porrada do louco “Godzilla: Final Wars”. Mesmo com todos esses elementos, nunca adaptaram o DRAGON BALL para um filme de live action (pelo menos que eu saiba). Por alguma razão será, e mesmo que eu acredite que é possivel fazer um bom filme sobre a série, o único problema continua a ser o orçamento. Arranjem um bom orçamento e a história que precisam está toda lá. Mas Hollywood, mantem-te afastada, deixa os japoneses fazerem aquilo que sabem fazer melhor. Japoneses, força com isso, só vocês para fazer um bom filme de DRAGON BALL.

Nota pessoal - 1 em 10 (pior filme do ano passado)

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2 Comentários:

Blogger a Sandra disse...

Nunca gostei do Dragon Ball

8:50 da tarde  
Blogger JohnSamus disse...

Mas tu claramente não fazes parte deste mundo! É que isso é daquelas coisas que não se dizem.

10:59 da tarde  

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