Can emptiness be filled?

Tenho de fazer equilibrismo pra não cair desta cadeira de plástico que já só tem três pernas…a varanda do primeiro andar dá-me uma vista diferente, os putos a jogarem à bola à chuva a caírem na lama as mães a ralharem eles a fugirem, são os maiores aqueles putos…gostava de ser como eles…a janela do quarto do outro lado da rua está aberta à minha frente…ainda ontem me contou uma das suas histórias…
Vivia ali um velho assim não de idade ainda muito avançada….60´s e poucos; estava confinado a uma cadeira de rodas, não falava muito…se alguma vez trocamos palavras foi a falar do tempo ou a dar os bons dias para não ser mal educado.
Víamo-nos mais à tarde, era quando eu ia para a varanda fumar um cigarro e quando ele se punha a apanhar os raios de sol ou os pingos de chuva no pedaço de rua que a sua casa tinha. Não falávamos, os bons dias já tinham sido ditos, já tínhamos concordado no tempo…contudo ele contava-me histórias com o seu olhar cansado e enrugado, historias de quando era jovem de tempos em que tal como eu tinha duas raparigas semi nuas na sua cama e não se conseguia lembrar de nada sobre elas. Não foi rara a vez em que o velho ouvia as discussões que elas tinham comigo assim que acordavam….elas discutiam comigo, eu não discutia com elas…estava ocupado a ver as histórias do velho, de vez em quando ria-se quando elas me atiravam qualquer coisa, um soutien, umas cuecas, uma atirou-me uma tigela que me pôs a sangrar do sobrolho.
O velho não tinha ninguém aparecia ás vezes uma senhora que fazia o que o velho já não conseguia fazer sozinho…não tinha mulher mas tinha uns quantos filhos que foram submetidos a uma lavagem ao cérebro pelas mães…ficando assim a verem pai como um mulherengo, chulo, cabrão etc etc. (as mulheres são muito mais criativas para arranjarem adjectivos desses)
Sei que me transformarei naquele velho mais dia menos dia…quando o fumo que sai da minha boca chegar ao céu serei como esse velho…ainda ontem estava aqui frente-a-frente com ele…
Ontem ao fim da tarde cortaram a luz ao velho, conforme ele tinha planeado, acendeu uma vela e pouso-a ao pé do cortinado ficou a vê-la arder até a sua pequena chama consumir os cortinados até consumir o seu andar…dei por isso já o incêndio ia quase a meio, tirei uma perna de uma loira que trabalha num bar aqui perto, era a primeira vez que sabia com quem dormia. Pus-me em cima das grades da minha varanda, saltei…sou maluco…seguro-me as grades da varanda do velho…a adrenalina faz coisas espantosas nunca conseguiria dar aquele salto noutras circunstâncias…entro e vejo o velho na sua cadeira da qual não se podia levantar sozinho a contemplar as chamas…grito para ele vir comigo, ele abana a cabeça a dizer que não, olhamo-nos….não esta ninguém na sua pensão ele tinha planeado isto bem….sentei-me à porta da pensão que estava do outro lado da rua onde eu estava alojado, a miúda do bar Laura veio a correr do meu quarto ainda enrolada num lençol...pergunta o que aconteceu diz-me que estava preocupada comigo, digo-lhe que houve um incêndio ela abraça-me….quase que me faz deixar cair o cigarro…..o velho estava farto de viver.
Amanhã é Sábado.














Yours sincerely...............Kid_d