segunda-feira, setembro 04, 2006

eu, Margarida, Vicente e a Mãe.





Vejo todos os buraquinhos dos estores. O cortinado é transparente. Mesmo só com um lençol branco por cima de nós o calor ainda se sente. Mas não é aquele calor abafante que quase não nos deixa respirar, ainda não é esse, é um calor suave, um calor de manhã azul clarinha, de grandes nuvens brancas e de uma brisa que fazia com que os cabelos da pequena Margarida lhe tapassem a cara, eles não deixavam que aqueles olhos verdes de relva e esperança vissem algo mais do que fios e fios de seda a amontoarem-se na sua cara. Ela andava a correr de um lado para o outro com o seu vestido prestes a sujar-se de qualquer coisa que iria deixar a sua mãe relativamente aborrecida.
Eu sentado na borda da cama tinha medo que a pequena Margarida caisse.
O sorriso aparece quando oiço o estardalhaço que a pequena faz ao brincar, uma lágrima começa a deslizar, sinto-lhe o sabor quando sinto a presença do Vicente na porta do quarto:
- Então, isto é que são horas?
Sorrio e olho-o ainda embaciado pelo sono:
- Sabes que eu gosto de dormir até estas horas.
- Agora já não tomas pequeno almoço.
- Mas agora poes-me de castigo é?
- Sim, hoje não vês televisão!
- Nãããããããããoooooo, vais paga-las.
Começo a correr atrás dele e ele começa a rir aquele riso alto e sonoro que pinta as divisões da nossa casa, que passa a correr e pinta o corredor e que dá vida à nossa cozinha ainda adormecida e que acaba no sofá da sala onde o pequeno Vicente é vitima do já famoso ataque das cócegas.
A Margarida aparece à entrada e diz com aquele ar empertigado e de senhora que ela às vezes põe:
- A Mãe deixou-me a tomar conta da casa e ela aqui não quer barulho.
- Desculpe Dona Margarida mas ele não me deixa ver televisão.
O seu ar altivo e mandão, desmonta-se num sorriso que se torna no mais belo raio de Sol daquela manhã. Vicente ainda se finge de morto estendido no sofá.
- Onde está a Mãe, Margarida?
- Foi às compras.
Margarida corre outra vez lá para fora, o Vicente deixa finalmente de se tentar fazer passa por morto e senta-se à mesa, como o meu olhar mandou, e fica especado quase incrédulo a olhar para a sandes de fiambre que tem à frente. Eu enfio-me na casa de banho.
Sento-me na beira da banheira e fico-me a olhar ao espelho, um olhar de como quem está a olhar para dentro de si indiferente ao cabelo despenteado, à barba por fazer ou à pequena remela que resiste no canto do meu olho direito...eu não vejo nada disso, eu olho para dentro de mim e pela primeira vez vejo em mim a felicidade, plenitude e tranquilidade de quem ama os que o rodeiam com uma força titânica, de quem não precisa de mais ninguém...só estas três pessoas bastam, deixei de ser dos meu pais ou de alguns amigos mais próximos, agora sou deles e isso basta-me e deixa-me imensamente feliz. Começo a chorar calmamente, depois começo a rir por achar estupido estar a chorar na casa de banho e pela figura que agora sim, vejo ao espelho. Eis-me de roupa interior barba por fazer olhos ainda meio entreabertos onde se seguram remelas e cabelo completamente idiota...como não rir?
- CHEGOU A MÃE!!!!
O grito da pequena Margarida é grande, tão grande que me empurra da borda da banheira para dentro dela, por um lado ainda bem que ela grita assim, ao menos ninguém ouviu o meu espalho.
Saio da casa de banho já quase outro e olho a Mãe de costas a preparar qualquer coisa para a mais pequena comer. Os cabelos amarelos tapam-lhe a nuca, as mãos trabalham quase automaticamente e eu abraço-a e beijo-lhe a face direita, a mais pequena ri-se, o maior faz caretas e manda-lhe pedaços de fiambre. Eu estou agarrado à minha Laura, à qual chamo também de Mãe, ela é a Mãe de nós os três. Eu amo-a. Quando amua e ganha aquele feitiozinho mau, teimoso e embirrante, quando olha para mim com aqueles olhos ternos, doces e verdes, quando apanha os fios de mel que lhe saiem da cabeça, quando anda numa fona a tratar dos miudos, quando se senta ou se deita a meu lado e põe aqueles óculos que lhe dão ar de professora ou de senhora de estracto social elevado, quando a sua pele clara, suave e aconchegante não tem roupa em cima, quando eu finjo que adormeço para ela adormecer também e fico a olhar para ela na pouca luz do nosso quarto, quando a oiço respirar descansada e feliz pois está connosco...e enquanto for assim, não precisaremos de mais ninguém, de mais nada.








Yours sincerely...............Kid_d

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2 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Eu só sei k o libel é gay! Libela Doctor!!!

7:42 da tarde  
Blogger Afal disse...

Lindo, simplesmente lindo!
Belas descrições ^^

Obrigada pelo comentário...gosto de acreditar que esta pessoa um dia me vai dar confiança para perder o medo. A esperança é a última a morrer.

Beijos***

1:30 da manhã  

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