quinta-feira, setembro 07, 2006

Filme de Série - Z - Parte 8 (3/3) "Fumar Mata"

Fumar Mata


Um rádio está ligado: “E esta noticia acabou de chegar. Ao que parece a policia entrou em confrontos com uma ameaça desconhecida. Todo o terreno está envolto numa grande poeira, que nos impossibilita ter qualquer imagem ou até saber o que realmente se passou naquele local.
Está tudo envolto num silêncio ainda mais assustador que a poeira castanha. Enquanto este confronto decorria, o Governo decidiu lançar as suas tropas nas ruas da nossa cidade num último ataque aos distúrbios que tinham começado esta tarde graças a uma noticia passada na televisão e a qual nos recusamos a divulgar.
Em pouco tempo as tropas controlaram os distúrbios e derrubaram finalmente a cadeia dos Media e a Companhia de gelados, acusando-as de terem iniciado estes distúrbios e de outros crimes relacionados com lavagem de dinheiro e de tentativa de controlar a opinião dos habitantes desta cidade. A partir deste momento estas duas cadeias voltam novamente a fazer parte do Governo e serem, claro está, controladas pelo Presidente.
O Pesidente, numa entrevista rara e à porta dos Media Inc., decidiu proferir algumas palavras: “Confiámos no povo e demo-lhesduas das grandes indústrias desta cidade. Ao uilizarem-nas contra o próprio Governo e contra o seu próprio bem-estar, não tivemos outra solução senão executar quem inicou a revolta e controlar novamente estas indústrias. Não queremos transportar esta cidade para uma ditadura, tal não nos passou pela cabeça, mas esta acção será para ser relembrada para sempre nesta cidade e para que todos comecem a respeitar a Lei e a compreender que ela está acima de tudo e acima de tudo ficará. Ser a respeitarmos conseguiremos ter finalmente um ambiente calmo nesta cidade e conseguiremos renovar tudo aquilo que eramos até hoje. A partir de hoje seremos uma nova cidade.”
Antes de se retirar, o Presidente deixou um pequeno agradecimento: “Agradeço em meu nome e em nome da cidade ao policia, lider de um grupo de defesa, que nos alertou para toda esta conspiração. Um verdadeiro herói nacional.”
São estas as noticias do momento. Fiquem connosco enquanto tocamos a melhor música directamente dos nossos novos estúdios e vos motivamos para a limpeza da cidade.”

O rádio desliga-se. Senhor abre os olhos e à sua frente vê um carro que arde, o mesmo que o projectou. Não sente as pernas, provavelmente partiu-as. Leva a mão à cara e fica com ela cheia de sangue. Começa a rir. Rasteja até à sua arma. Tenta recuperar p fôlego, mas o corpo já não lhe obedece. “Demasiado pó nos pulmões, estou lixado”.
Ouve uns passos. Da poeira sai um miudo, que se aproxima dele. Mete-se de joelhos e olha para Senhor, este faz um esforço para manter os olhos abertos.

- Eu conheço-te...

- O senhor vendia tabaco ao meu pai.
- Então deve ser isso.

- (a sorrir) É o homem do tacabo!

- Sim, lá isso sou.

O miúdo continua a olhar para Senhor e aponta para a ferida na sobrancelha.

- O senhor tem um grande dói-dói!

- Tenho.

- Está bem?

- Estaria melhor se conseguisse fumar um cigarro.

- Ó...se eu soubesse tinha lhe trazido um, é que achei muitos ao pé de um homem que estava a dormir.

Pronto, depois de tanto de trabalho era um puto de 5 anos que andava com o seu maço d eum lado para o outro.

- Ainda tens alguma coisa contigo?

- Não, deitei tudo fora! O meu pai sempre me disse que aquilo era mau.

Bem, agora também não fazia diferença nenhuma. Longe de qualquer tipo de ajuda e com as duas pernas partidas, ia-se esvair em sangue até morrer. “Yupi...”

- Tu nunca deves fumar, está bem?

- Está bem!

- Devias sair daqui, onde estão os teus pais?

- Não sei, eles disseram que vinham aqui, mas não os vejo.

Os pais dele devem estar mortos por causa dele, mais uma razão para se sentir bem. Retira do bolso das calças um papel. Nele estava a receita para fazer um cigarro. Olha para o miúdo e decide pegar fogo ao papel. Ver o papel a arder custou-lhe, mas ao menos levava aquilo consigo. Por outro lado, também não queria ver miúdos como aquele que está à sua frente a cairem na tentação de experimentar aquilo. “O meu lado sensivel a vir ao de cima...”
Tira do bolso das calças um envelope e entrega-o ao miúdo.

- Leva isso contigo. Tens familiares aqui perto?

- A minha tia mora ao pé da casa de hamburguers ali ao fundo.

- Entrega isso à tua tia e fica com ela.
- O senhor vem comigo?

- Não, acho que vou ficar aqui a descansar mais um bocado. Agora vai lá.

- Eu depois venho cá com a minha tia!

- Fica combinado.

O miúdo começa a afastar-se. Pára e diz adeus a Senhor, que não lhe consegue retribuir o gesto. “Pronto, só falto eu”. Mesmo antes do sangue entrar pela vista adentro e mesmo antes de fechar completamente os olhos, um camião com destino à cidade vizinha leva um carregamento de tabaco. De um dos lados do camião, um anúncio aos cigarros, onde num dos maços se conseguia ler: “Porque fumar mata”.

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