Não vou começar com o "famoso" era uma vez. Acho que não era uma vez, foi há pouco, mesmo agora.
A passagem nas estações, os nomes de cada apeadeiro envolvem cada vez o olhar perdido e cansado deste dia. Reparei que existe do meu lado uma senhora que está a fazer malha, ou tricô. Lá ao fundo junto ao barulho da carruagem está um miudo com um skate e uma mala, provavelmente deve ir para a escola. Torna-se bastante dificil não me esquecer do mundo pois tanto o meu olhar absorve e assimila o barulho, e o passeio que parece durar horas criam confusão. Levanto-me para ir a carruagem seguinte. Encontrei um jornal que desfolho e faço aquela revisão rápida, um olhar por vezes horrorizado pois de facto as noticias não são muito famosas no pais em vivo. Passa outro comboio ao lado do nosso, a velocidade é demasiada para a minha mente conseguir elaborar um pré-pensamento, parece que o cognitivo morreu. De facto aquela passagem leva tudo. Ou será que eu queria que levasse? Talvez, agora já não sei. Acho que o que me melhor define é o facto de não ter certezas, ou até divagar a mente em demasia. Já vejo a praia com os barcos dos pescadores e penso que a vida no mar deve ser uma vida bastante dificil. Pelo que é o que previamente ouço em todo o lado, mas de facto e bem visto, até é. Tenho de tirar o bilhete para fora, o revisor já ali está ao fundo. Também lá está alguém a fazer-me adeus...?Não conheço, penso. Entreguei o bilhete ao revisor e quando averiguo já não está lá ninguém. Agora fiquei triste. "Sento-me ao lado desta rapariga?"
Uma breve hesitação e o desejo fala mais alto.
"Ela tem uns olhos mesmo lindos bolas... e o resto, ui...", enfim. Senta-se alguém ao meu lado direito, personagem com um ar taciturno e ausente. Passo à próxima carruagem, mas não sem antes admirar a paisagem maritima. Deixar-me levar é muito fácil, pensei.
Outro comboio faz-me perceber que a perdição está já ali ao lado, inspiração jovem, nada banal pelo contrário, quase pecado.
Entro num mundo só meu, de adoração carnal, cuspo a realidade com a minha visão. Problemática... Saiu na estação e eu só queria pedir a Deus que ela me ouvisse.
O homem sentado acende um cigarro e inala uma nuvem de fumo densa como breu. Depois de me ausentar propositadamente, penso naquilo que talvez faça mais significado nesta vida: nada é definitivo, e de facto não o é mesmo.
Nesta carruagem encontro uma janela com um jardim lindissimo, e por breves momentos consigo ver de novo aquela pessoa que me estava a acenar na outra carruagem. Recordo bem a imagem quando vejo o médico dar aos meus pais a triste noticia, de que tinha morrido. Esquizofrenia dizia. Acabei por não chegar a ver a ultima paragem mas já sei que a pessoa que me estava a acenar se chama Joana.
-A certeza (realidade) é posta em causa, quando a nossa própria percepção não é nada mais, nada menos do que aquilo que queremos ver.
-talvez seja-
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