Hoje foi dia de ajudar o meu pai a arrumar alguma da tralha que temos na arrecadação. Focámo-nos nos inúmeros arquivos que tinhamos lá em baixo e fomos deitando fora coisas que a familia já não precisava. Contas dos anos 80, pagamentos originais da casa, na maioria dos papeis eu ainda nem tinha nascido. Foi tudo para o lixo, sem problemas. Depois chegou a parte mais dificil: as minhas coisas.
Eu guardei sempre tudo o que tinha da escola, desde cadernos, dossiers, desenhos, testes, livros, tudo. Nunca me quis livrar de nada e sempre pensei que um dia ia precisar de tudo aquilo. Hoje, com medo de ser um "hoarder", cresci um par de tomates e livrei-me das coisas que não precisava. Vi muita coisa que me deixaram saudades, principalmente por me recordar de tempos tão simples, e vi também muita coisa que me estava a prender. Desde o final do ano que ando a tentar cortar com pequenas coisas do passado, deixá-las para trás e seguir em frente sem remorsos. Tem sido o meu pequeno projecto pessoal para conseguir melhorar um bocado, até porque era ligeiramente obcecado com o passado (está a passar, pessoal). Aliás, o próprio Boião é resultado dessa medida e com o tempo também se vai.
No meio da tralha toda, encontrei coisas que me fizeram sorrir, coisas que eu nem sabia que existiam. Quantos de vocês viram as vossas próprias ecografias, principalmente quando são de 87? Eu tive com elas nas minhas mãos, nunca pensei que a minha mãe fosse assim tão sentimental, mas até a minha pulseira de identificação da maternidade lá estava. Esse tipo de coisas, eu acho que devem ficar connosco. Cadernos, folhas e afins que nos lembrem unicamente de tempos de escola e de pessoal com quem já não falamos não fazem falta nenhuma. Se a desculpa era o meu irmão, para ele puder estudar pelos meus apontamentos, tudo isso mudou quando o miudo seguiu por um agrupamento diferente do meu e chegou ao 12º. São coisas que eu senti que tinham de ir embora, que não me estavam a ajudar. E assim que o fiz, não me senti mal, aliás, nem conseguia parar de deitar fora.
Não sei se concordam comigo, mas eu apenas fiquei com os livros. O resto desapareceu, fica-me na cabeça e lembro-me quando quero, já ocupam espaço lá. Começo a sentir que não me posso apegar a coisas que perderam todo o seu valor, que representam tempos que nunca mais vão voltar e que simbolizam pessoas de quem eu me afastei ou elas se afastaram de mim. Eu sou outro, as coisas são outras e não fazem falta. Estou a limpar a casa, kiddos, a ver se melhoro um bocado como pessoa e fico finalmente em união comigo mesmo (e eu não sou emo, bitches, apenas dava valor a cenas do passado que agora estou a pôr de lado para seguir em frente).
Custou-me muito mais deitar fora as chaves da casa da minha avó do que mandar uns quantos papeis para o lixo. Afastar-me completamente da casa em que cresci foi o primeiro passo desta limpeza que vai continuar até, sei lá, o Boião fechar. Até lá, encontrei umas quantas coisas muito porreiras, como uma história que comecei no 7º ano que vou colocar aqui com erros e tudo, para verem o quanto eu escrevia e tinha má imaginação.
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